Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia A Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia surgiu em 1991, substituindo três títulos extintos em decorrência da fusão das instituições ligadas à pesquisa nas áreas de Arqueologia e Etnologia: Revista Dédalo, Revista de Pré-História e Revista do Museu Paulista. É um periódico acadêmico destinado à publicação de trabalhos sobre Arqueologia, Etnologia e Museologia. Em 2016 a revista torna-se eletrônica, semestral e todos os números impressos foram digitalizados e disponibilizados em acesso aberto pelo Portal de Revistas USP.
- A relação de Esparta, Élis e das pólis tessálias com seus periecos e o problema da “pólis Lacedemônia”por Gabriel Cabral Bernardo el julio 14, 2022 a las 3:00 am
Pode-se dizer que, desde ao menos a segunda metade do século XIX, a pólis foi a unidade básica de análise da história da Grécia antiga. Entretanto, em muitos casos é evidente que a tentativa de adequar as pólis gregas a cidades-Estado prototípicas do Estado moderno produziu ressonâncias longevas, que até hoje condicionam nossa compreensão das relações sociopolíticas entre vários grupos que compunham as pólis. Portanto, o objetivo desse artigo é demonstrar como as raízes dessa historiografia baseada na pólis condicionaram uma compreensão errônea da relação entre Esparta e as comunidades periecas da Lacônia e Messênia durante o Período Clássico. Isso será feito por meio da comparação dessa relação com aquela mantida por outras pólis com seus respectivos periecos – mais especificamente Élis e as pólis tessálias. Veremos que, ao invés de um Estado unificado e com funcionamentos análogos aos de sua versão moderna, a soma de Esparta e seus vizinhos compunha uma comunidade politicamente muito menos hierárquica e rígida do que se tende a pensar. Isso, por sua vez, nos permite aproximar Esparta de fenômenos análogos contemporâneos a ela, os mesmos que, apesar das respectivas especificidades, ainda apontam para a inexistência de uma pólis-Estado que englobasse cidadãos de uma cidade central e seus periecos.
- Um espaço em foco: debate acerca dos estudos sobre a urbanização da Turdetâniapor Bruno dos Santos Silva el julio 14, 2022 a las 3:00 am
Este artigo tem como objetivo apresentar o panorama da urbanização do sudoeste da Península Ibérica ao final do primeiro milênio a.C. Para isso, o texto partirá da leitura de um trecho da obra Geografia, de Estrabão, autor do século I a.C. Sua descrição da Turdetânia apresenta dois aspectos que suscitam importantes debates, dois dos quais serão apresentados neste artigo. O primeiro diz respeito à definição da Turdetânia como χώρα e sua tradução como “espaço”; o segundo, por sua vez, se refere à ideia de a Turdetânia conter um “incomparável número de cidades” e essa ser uma das suas principais qualidades. Nesse sentido, o artigo pretende voltar-se para a historiografia que estuda esse espaço e analisá-la sob esses prismas, tendo o processo de urbanização como fio condutor.
- Pólis e insularidadepor Lilian de Angelo Laky el julio 14, 2022 a las 3:00 am
Neste colóquio sobre a unidade e a diversidade das cidades mediterrânicas, discorremos sobre a expressão do fenômeno da cidade nas ilhas dessa região, mas, especificamente, sobre o contexto grego das póleis, a partir da época arcaica, no arquipélago das Cíclades, no Mar Egeu. Escolhemos as Cíclades porque se trata de um conjunto de ilhas com no máximo 400 km2, sendo, assim, consideradas ilhas menores, se comparadas às ilhas mediterrânicas com milhares de quilômetros quadrados (como a Sicília, a Sardenha, Creta). Nas ditas ilhas “pequenas”, os impactos da insularidade, que nos interessam compreender, são sempre maiores do que nas consideradas ilhas “continente”, como a Sicília, por exemplo. Nesse sentido, propomos apresentar o debate e discutir, ainda que inicialmente, as seguintes questões: (1) como aspectos impostos pela natureza insular puderam influenciar a organização física e política das póleis em ilhas? (2) Quais fatores podem explicar a existência do número de póleis nas ilhas?
- A Calábria grega: expansão territorial da pólis de Lócris. Apontamentos preliminarespor Maria Beatriz Borba Florenzano el julio 14, 2022 a las 3:00 am
O Ocidente mediterrânico, a partir do século VIII a.C., passou a receber levas de migrantes gregos dispostos a ali se instalarem permanentemente. Levados pela falta de terras agriculturáveis, por problemas políticos em seus locais de origem ou, ainda, pela busca de um modo de vida ligado à atividade comercial, esses grupos, por força, tiveram que estabelecer relações com os habitantes das localidades do Ocidente. Fundando assentamentos de vários tipos – uns mais permanentes, outros mais temporários –, os gregos tornaram-se parceiros de sicânios, sículos, samnitas, fenícios, enótrios e assim por diante em relações muitas vezes de agressão, mas em outras de convívio pacífico, de acomodação, de negociação. Nesse contexto, uma leva de migrantes da Lócrida da Grécia Balcânica chegou ao extremo sul da Península Itálica, pelo lado do mar Jônio, e fundaram uma nova Lócris no século VII a.C.: Lócris Epizefiri. Ao depararem-se com uma faixa costeira muito estreita, esses lócrios logo se aventuraram pelas montanhas do Aspromonte em direção ao mar Tirreno: ali encontraram uma planície muito fértil, onde fundaram dois novos assentamentos: Medma e Hipónio. Neste artigo, procuraremos mostrar o que a Arqueologia revela sobre como essas novas pólis na planície tirrênica de Gioia Tauro se constituíram, ampliando a área de influência de Lócris.
- Os campos de integração em Delos no período helenístico (167-69 a.C.): apontamentos para uma História Antiga Globalpor Fabio Augusto Morales el julio 14, 2022 a las 3:00 am
Este artigo discute, do ponto de vista teórico e historiográfico, o problema da relação entre as cidades e os processos de integração no período helenístico na chave da História Antiga Global. Para isso, está dividido em cinco partes: uma breve apresentação do problema a partir do caso de Delos no período helenístico; o balanço crítico da historiografia sobre as cidades helenísticas nas últimas décadas; a análise de duas propostas de modelos interpretativos (de Vlassopoulos e Guarinello) para a história das globalizações/processos de integração na antiguidade; a proposição de um modelo centrado na categoria de campo; um exercício de aplicação do modelo proposto ao caso de Delos durante a Segunda Dominação Ateniense (167-69 a.C.). O texto argumento pela utilidade da categoria de campo, inspirada nas reflexões de Bourdieu e associada às propostas acima mencionadas, para a reflexão sobre a complexidade dos processos de integração sem perder de vista as sociedades enquanto totalidades.